domingo, 2 de dezembro de 2012

Lula e Rosemary: o escândalo moral

Até o momento, eu não estou entendendo muito bem esse escândalo envolvendo a ex-assessora da presidência da República Rosemary Noronha. Não que eu entenda bem alguma crise política brasileira, mas esse em específico está me deixando inquieto.

Dona Rosemary, aparentemente, teria praticado tráfico de influência, o que, se comprovado, deve ser julgado com bastante rigor, sem dúvida. Mas até o momento eu ainda não encontrei o que exatamente ela ganhava ao participar desse esquema. Porque não consigo imaginar que ela fez todas essas indicações para cargos de confiança - mesmo que os candidatos às vagas tivessem experiência para concorrer aos postos - para que uma empresa de sua família ganhasse uma licitação pública.

Em alguns casos, esse escândalo chega a ser meio bobo, ou uma sucessão de piscadelas para o público, quando traduz em uma troca de emails "PR" por "Presidência da República", mas evita qualquer referência de "JD" a "José Dirceu".

Ela nega qualquer envolvimento em crime e diz que nunca fez "nada ilegal, imoral ou irregular", e eu acrescento, à Roberto Carlos, que engordasse, "que tenha favorecido o ex-ministro José Dirceu ou o ex-presidente Lula".


Eis que aparece, ontem, pela primeira vez o talvez motivo de todas essas denúncias. Em uma outra dessas reportagens - não assinada! - com piscadela de olho para o leitor, sem dizer tudo, apenas com insinuações, há a informação de que Lula e Rosemary eram amantes.

:-O

"Marisa Letícia, a mulher do ex-presidente, jamais escondeu que não gostava da assessora do marido", diz um trecho da reportagem. "Quando a então primeira-dama Marisa Letícia não acompanhava o marido nas viagens internacionais, Rose integrava a comitiva oficial", diz outro, "Rose acompanhou o ex-presidente em algumas internações durante o período em que este se recuperava do tratamento de um câncer no Sírio-Libanês, em São Paulo. Mas só pisava no hospital quando Marisa Letícia não estava por perto", está escrito em um terceiro momento.

As referências levam a crer que Rosemary tinha uma grande, digamos, intimidade de Lula, portanto conseguiria favores especiais do então "PR" para fazer as tais nomeações a que ela está sendo acusada. Novamente, se for comprovado, o caso deve ser julgado exemplarmente. Mas, eu ainda caio no raciocínio, agora com mais força: por que ela fez isso? Por que ela teria participado desse esquema de tráfico de influência? O que ela ganha com isso? E, principalmente, se ela já era amante do "PR", o que mais ela iria ganhar?

Nesse momento, só penso - e eu quero estar enganado - que o caso é nada mais que um escândalo moral. Foi a desculpa para desmascarar o, de acordo com a opinião mais tradicional, casamento bonito e feliz de Lula e dona Marisa. Foi uma maneira de atingir Lula, principalmente no eleitorado mais conservador, que não aceita - em tese - a traição. Foi uma forma de falar mal, fazer fofoca do ex-presidente para as mulheres, que vão certamente se colocar no papel da ex-primeira-dama e crucificar Lula. Mas estamos realmente gastando tinta e papel por conta disso? Não seria melhor salvar as árvores?

Todavia, do jeito que Lula é o cara, pode acontecer ironicamente o contrário. Apesar dessas denúncias de infidelidade, o ex-presidente pode ser visto ainda mais como um humano, portanto frágil, capaz de errar, mas que teve a chance, agora, de dar a volta por cima. A ver.

Lembro, porém, que a última vez que se usou um escândalo moralista contra Lula deu certo. Foi em 1989, e  a denúncia partiu da campanha do então candidato Collor sobre o caso em que Lula abandonou a ex-namorada Miriam Cordeiro aos seis meses de gravidez, e ainda teria sugerido um aborto. Dizem que esse escândalo teria abalado Lula e tirado os votos de um eleitor mais conservador. Era 1989, apenas quatro anos depois do fim da ditadura. Lula, na época da eleição, justificou essa ação por causa do amor: teria se apaixonado por outra mulher e não tinha resistido. Deve ser importante dizer, agora, que a outra mulher era Marisa Letícia.

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