sábado, 15 de dezembro de 2012

Aumentam autores, diminuem leitores

Arte de Cavalcante para a reportagem do André
Dois textos aparentemente sem ligação no "Prosa" de hoje me pareceram feitos um para o outro. A coluna do Miguel Conde, resumidamente, falava sobre a preponderância do papel do crítico em um mundo em que se espalha a ideia de que a opinião de todos têm o mesmo valor. A reportagem do André Miranda abordava o crescente fenômeno da autopublicação. Em ambos os casos, os intermediários entre os produtores e os leitores diminuíram. Mas não é só nesse aspecto que os dois textos dialogam.

No texto do Miguel, havia uma tentativa de encontrar esse poder perdido pelos críticos, num mundo em que as instituições se vaporizam com cada vez mais frequência. Como se diferenciar do leitor comum? Com que argumentos provar que o crítico tem uma opinião mais válida que a do leitor eventual? Na verdade, é provável que até tenha, dentro de um ponto-de-vista institucional - o crítico consegue enxergar mais faces da mesma obra - mas, para o leitor comum, o que vale mais, muitas vezes, é a opinião do amigo com quem ele divide as mesmas preferências.

Daí acho que a crítica não vai acabar [ao menos não consigo enxergar o fim dela], mas haverá, na minha  humilíssima opinião, a ainda maior segmentação das críticas. Nem sugiro que esse processo incentivará a diminuição do diálogo entre diferentes correntes, porque poderá haver, dentro desse processo segmentado, até quem preze olhar para todos os lados envolvidos antes de vaticinar a sua opinião.

E eu suspeito ser muito saudável a perda do poder dessas figuras que sempre carregaram as decisões entre a vida e a morte literária: quem é publicado [ou não], quem é bom [ou não]. O crítico, como o próprio artista, o escritor, ou quem quer que seja, não é ninguém melhor ou maior, apenas trabalha com aquilo que é, para os outros, pura diversão. Deveria, na opinião de muita gente, se sentir um privilegiado. E, talvez, isso bastasse.

A falta de editores e o crescimento dessas editoras de autopublicação podem indicar uma outra tendência: o crescimento exponencial do número de livros. Se essa sugestão se concretizar como uma das principais formas de negócio do mercado de livros, posso imaginar um processo curioso, análogo ao intuído pelo Marcelo Latcher, dos leitores profissionais: se pagará apenas para se publicar o livro. Com o aumento da quantidade de livros, da demanda, o número proporcional de consumidores diminuirá. Há uma famosa lei econômica por aí.

O livro tenderá a ser de graça, aberto a todos. Já o profissionalismo será pago. Quem quiser publicar, mesmo em formato de e-book, terá que desembolsar uma grana. O mesmo acontecerá a quem quiser distribuir nos canais mais tradicionais. Ou ter uma edição mais caprichada. Ou, até posso imaginar, quem quiser uma opinião abalizada - de um crítico profissional. Ou seja, o mercado não deverá diminuir - por isso, ao menos. Pelo contrário.

Já pela mudança na hegemonia da discurso escrito, bem, é outro papo.

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