quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A primeira grande obra do Twitter?

Jennifer Egan está inteirona para a idade [50 anos]
Quando saiu em agosto "Black box", da Jennifer Egan, rolou um [pequeno] alvoroço: seria o primeiro experimento literário de alguém razoavelmente reconhecido no mainstream - se é que há isso na literatura - bancado por uma publicação que é a representação do cool, a "New Yorker", no Twitter. Isso, naquela ferramenta que se vende em 140 caracteres.

As pessoas falavam que, além de ser um experimento, "Black box" era um ótimo conto. Egan tinha explorado o formato de frases curtas, adaptando ao seu estilo [nunca tinha lido nada dela] de descrição na segunda pessoa. Demonstrando a minha agilidade, eu li o texto só agora, da maneira mais "natural" possível, no site que copiou todos os posts publicados. E pude ter a minha própria opinião sobre a questão.

O personagem principal dessa "caixa preta" é uma mulher sem identificação, mas classificada como uma "beauty", que, percebemos logo de cara: é uma espiã. Uma espiã dos EUA do futuro, que protege a soberania de seu país. Só com essa premissa e em 606 tuítes, Egan consegue passar por assuntos bem contemporâneas como robótica, instinto de nacionalidade e a celebrização do joão-ninguém, mas sem deixar de tocar em questões que sempre fizeram e sempre vão fazer parte da humanidade, como família, amor, sexo.

Isso numa narrativa que é, sempre e obrigatoriamente, rápida. Além de incisivamente inteligente. Precisa e enxuta, ela consegue usar o veículo, o meio, a seu favor. Divide pensamentos em dois ou mais tuítes, o que dá, vez por outra, uma sensação de suspense, que vai se revelando à medida que as frases aparecem, desmentindo ou confirmando a anterior. Ou demonstra os vários pontos-de-vista sobre um determinado assunto, a cada tuitada, multifacetando a questão em pauta.

Egan, ou a narradora, ainda se mostra humorada, soltando, sempre que possível a sua opinião sobre assuntos correlacionados à narrativa, como quando ela fala, logo no tuíte 13 que "it is technically impossible for a man to look better in a Speedo than in swim trunks". Ou quando comenta o diálogo que está acontecendo entre a espiã e o homem que a aborda / está sendo abordado: "'Shall we swim together towards those rocks?' may or may not be a question".

Joe Winkler, escrevendo sobre o conto em frases de até 140 caracteres para o HTMLgiant, lembra que Egan não é a primeira nem a última a se adaptar aos meios para tentar produzir novas obras. Ele também cita o movimento inverso, de querer evitar as inovações tecnológicas, de gente como Jonathan Franzen, que vem sendo chamada de neo-ludista.

O que se tira daí é que devemos pensar a obra, apesar do seu formato. Tentar esquecer, à medida do possível, e se for necessário, onde e como ela foi publicada. Se não for possível, saber se a escolha do meio é realmente apropriada ou apenas uma frescura, um chamariz vazio para um texto que poderia existir em qualquer outro lugar, sem perda. Isso, sem qualquer preconceito, de peito aberto, com coragem. Se a humanidade retornar ao grunhido, como profetizou pessimisticamente José Saramago, devemos tentar encontrar o grunhido mais belo entre todos. No caso de "Black box", podemos avaliar que é, sim, uma obra de arte excepcional.

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