terça-feira, 23 de outubro de 2012

Impressionistas: a ressaca, o bucolismo

Após a bonança, sempre vem a tempestade. Ou, a contra-cultura sempre vence. Ou, as gerações sempre tendem a negar a sua anterior. Após a festa de Paris, da exaltação da cidade, da euforia com a urbi et orbi, os pintores franceses da exposição "Impressionismo: Paris e a Modernidade – Obras-Primas do Museu d’Orsay" começaram a se voltar para o campo, para as cenas bucólica, numa espécie de desintoxicação.



Confesso que quadros de paisagens não estão entre os meus favoritos. Tendem a me entediar muito facilmente. Mas "Colheita" de Daubigny consegue ser diferente mesmo retratando o que praticamente todo mundo faz. Vemos gente colhendo algum tipo de cereal, cevada, trigo ou algo do gênero. O campo está com vários lavradores, ao fundo, o trabalho está um pouco adiantado. Mas algo é diferente nesse quadro. É vivo. É brilhante. Talvez o contraste bonito entre o céu azul e o chão amarelo e verde. Talvez os detalhes colocados por Daubigny, com pequenas flores no meio do campo de plantação. Talvez porque seja possível ver esse quadro de diversos ângulos e distâncias possíveis, sempre dando uma sensação completamente nova. Geralmente, me parece, há uma distância ótima de onde se é melhor ver certas peças, mas essa, especificamente, te proporciona vários enfoques. Talvez por suas dimensões, maior que os quadros anteriores, talvez por sua simplicidade. Não sei. Só sei que é um quadro que tranquiliza o espectador.


"O lago das ninfeias, harmonia verde", de Monet, é, provavelmente, o quadro mais bonito de toda a exposição. Mesmo que eles tenham trazido "O salão de dança em Arles", de Van Gogh, esse Monet é o campeão, na minha mais que humilde opinião. É o ápice, quase a definição do que ficou conhecido Impressionismo. De perto, não faz muito sentido. Parece apenas um borrão de cores, com tendência ao verde [brinco que, para diferenciar, basta pensar que Monet é verde, e Renoir, azul]. Ao se distanciar, acontece a mágica. A ponte parece se destacar do quadro. As ninfeias, essas plantas aquáticas, parecem flutuar, já que o lago reflete à perfeição, no espaço em que aparece, a vegetação - verde, muito verde - do entorno. Compare com a outra peça citada de Monet para ver como ele caprichou nas cores nesta ocasião. Mas é no reflexo, nesse espelhamento, mais que na técnica utilizada ou nas cores, que, eu acho, mora a genialidade. É ao tirar o seu chão, perder a territorialidade, brincar com os duplos, que vemos a beleza da pintura, que recria o ambiente retratado. Impressionante.

Para uma conferida em outras das obras expostas, veja esse blog aqui.

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