quinta-feira, 12 de abril de 2012

Bile negra

[...]Desculpem a minha bile negra, a minha grosseria, desculpem a minha falta de jeito, mas esse assunto, até hoje, me sangra de um jeito que eu não consigo estancar. Às vezes, perco a razão, sim, perco sim, mas continuo fiel ao que eu sempre acreditei. Às vezes não acredito no que aconteceu, no que fizeram. Todo o meu bom humor se esvai. Mesmo que Marcos Aurélio sempre tenha me dito que nada vale a pena, além do fato do que escolhemos, do queremos com a nossa vontade acesa, e que só assim não vamos nos arrepender quando fomos rever aquele filme no instante final da vida, ou não vamos ranger os dentes quando o demônio chegar e nos avisar que vamos ter que viver essa mesmíssima vida pela eternidade, e percebermos que o inferno – ou o paraíso – foi a nossa própria vida. Só não nos arrependeremos quando, sempre que pudermos, fizermos o que queremos – ele repetia e eu repito, agora, já velho, caquético, caduco, para os meus bisnetos que me ignoram, que brincam comigo como se eu fosse um boneco de pano – o que, para mim, é divertidíssimo. Mesmo com tantas desgraças, tantas lembranças ruins, eu não me arrependo. Eu viveria essa vida de novo, porque o que aconteceu eu não pude evitar. Eu fiz o meu melhor, eu sei que eu lutei com todas as armas que eu sabia manejar. Eu jamais optei por um caminho porque era o que todos tomavam, só segui a minha rota, muitas vezes sozinho, como dessa vez, tentando, à medida do impossível, sorrir, tornar o mais pesado fardo algo divertido. [...]

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